sexta-feira, 31 de maio de 2013

Ser



Ser é existir
Existir para pensar
Pensar é desobedecer
Desobedecer para criar
Criar para evoluir
Evoluir para ficar
Não existe guerra Capaz
De destruir
O progresso feito na paz
Nem que destrua um sorriso de rapaz
Que por ser rapaz é a natureza do ser
Do meu ser
Chego sempre atrasado
Mas mesmo atrasado
Sou o melhor no que faço
Perfeito no que me empenho
Divino no que me esforço
E por isso sou mais que um ser humano
Sou eu livre com o que amo
Esse é o ser perfeito
Perfeito é esse o ser!
Que comigo teve que nascer!

Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Será Sempre

                                                    (Dedicado a Manuel A. Pina)

Tu
serás sempre
Tu
por mais que tentes
sair do teu
Eu
serei sempre
Eu
Por mais
que eu tente
Ser
outro eu
cada vez mais
Serei sempre
Eu
Como
um Pássaro
por mais
que voe
Será sempre
um Pássaro
Por mais
que procure
Será sempre
Como eu
Por mais que       voe
voe        escreva                     
   escreva            voe                  
Cada vez mais
Para fora
Do meu
Ser
Mas o ser
Será sempre
Meu
Agora
Que morreu
Um génio
A ele Escrevo        
Mas quando
Morreu
Outro
Nasceu
Dentro
Do meu.
Pássaro.
Como vai
o teu?
O meu
Vai bem
É meu



Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Lareira



Sentado
Acendo um cigarro
Em frente da lareira
Rebola um pedaço de madeira
Levanto-me
Agarro-o mesmo em chama
Queimo-me
Rio queimado sozinho
Olho pela janela
Lá está o sol
Raios de sol
E diz o sol ao meu ouvido
Como se estivesse a meu lado:
Olha-me!
E eu olho o sol e cego-me
Mesmo que seja apenas psicológico
Queimado sozinho cego
Caminho na direção da lareira
De onde ouço
Vinda do fogo, uma música perfeita
 (Impulsos eletroquímicos atravessam os meus neurónios)
Entro na lareira
E abraço o fogo
Como se abraça um filho
E assim morro
Queimado sozinho cego encolhido
Uma criança brinca sob os raios de sol
Eu morto em cinzas sob os raios de sol
Deixei a minha vida, em poema, escrita num papel

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 28 de maio de 2013

No Meu Bolso



Perdido no deserto que trago no bolso
Agarro e puxo-o para fora como um forro
Para sacudir o pó e os papeis, agarro
E puxo-os para fora do meu bolso
Caem mortos do meu bolso
Todos os poemas que tinha escrito
“Phantasie ist unser guter genius oder unser
dämon“     [1]
E no chão o som
Os gritos dos génios
Que caíram agarrados aos meus poemas
Wasser und feuer sind deine augen                 [2]
Poets zupfen ihre Herzen                                 [3]
Com o coração por entre os dedos
Vermelhos escorrem os segredos
Vestidos de mistérios
Sujos por entre os dedos
E assim do meu bolso
Caíram e morreram todos os génios

Bernardo dos Santos Morgado

Notas:
[1] - Frase de Immanuele Kant (A imaginação é o nosso génio do bem ou o nosso demónio)
[2] - Água e fogo são os seus olhos
[3] - Os poetas arrancam os seus corações

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Desordem e a Perfeição


No universo tudo tende à desordem
Eu correspondo
Tendo à desordem
Mas na minha desordem sou organizado
Na minha desordem sou eu
Adapto-me como um líquido
Ganho a forma do recipiente
Se fosse um sólido acabava partido
Pedaço a pedaço, espalhado
E o ser humano é um sólido
Acaba sempre partido
Nem que seja apenas na cabeça
Mas acaba
Na minha desordem
Tento alcançar a perfeição
Como se a perfeição estivesse no topo da prateleira
Ponho-me em bico de pés, estico-me e alcanço-a
Toco-lhe com a ponta do dedo
A natureza, a física, puxam-me para baixo
Já com o braço dorido, por fim agarro-a
Agarro nela com força e guardo-a
E assim como tantos outros desafiei a física
Para alcançar a perfeição
Desafiando a 2ª lei da termodinâmica
E a lei da gravidade, para poder ser minha
Agora com ela bem guardada junto do meu peito, é minha!
Sento-me com ela, pouso-a no meu colo
E escrevo  escrevo  escrevo
Porque agora a perfeição é minha
E agora que me falta fazer neste mundo?
Se já tenho a perfeição no meu colo?
Agora só me falta escrever tudo
Para deixar o meu legado
O legado perfeito, que é perfeito pelo meu esforço
Um dos mais importantes do universo
Porque para o ter na desordem esforcei-me
Desafiei a natureza e a física e agora dou-to
O livro em que escrevi tudo
Mas custou-me

Custou-me a vida.

Bernardo dos Santos Morgado

sábado, 25 de maio de 2013

Schubert



Acendo um cigarro
Devagar fecho os olhos
Sigo o fumo
Com os olhos entreabertos
Enquanto ouço
Ave Maria de Schubert
Adormeço
Sinto uma presença a meu lado
Anjo:
Trago
Um poema divino
Eu:
Que poema perfeito
Se é este que estou ouvindo
Uma deusa que desconheço
Canta em germânico
Tão delicado
Que chora o meu ouvido
Perfeito
Anjo:
Sonne
Und
Air
Und
Wasser
Und
Land
Und
Feuer
Und
Perfektion
Eu cito:
Voando
Neste prado
De nuvens
E musicas
Assim perfeito
Ouve-se o piano
Quando o piano morrer
Eu morro tambem, satisfeito
Enquanto fumo um cigarro
Schubert
Que perfeito momento
Para se estar morto

Bernardo dos Santos Morgado

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O Meu Génio

Génio que vives em mim
Sai de dentro de mim
Para ver se és igual a mim
Para poder tocar-te, sentir-te
Quando me dizes: Não tenhas pressa
Não digas
Porque quem chegou atrasado um minuto
Não teve lugar na história
Quando me dizes: Tem pressa
Não digas
Porque quem tem pressa, tropeça
Quando me dizes: És 8 ou 80
Não digas
Porque eu sou 0 ou 1000
Quando me dizes: Toca música
E eu toco poesia
Quando me dizes: Escreve poesia
E eu escrevo música
Quando me dizes: Olha para baixo
E eu olho para cima
Quando me dizes: Tu consegues
E eu não consigo
Quando me dizes: Faz maldades
E eu faço coisas boas
 (ou faço maldades)
Não faz diferença eu e tu somos o mesmo
Preso ao mesmo corpo no mesmo mundo
Quando escreves a pensar em mim
E eu escrevo a pensar em ti

«Sai de mim só um minuto»
Para saber se te pareces comigo
Agora que saíste escreve o resto


Agora que saí vou acabar de escrevê-lo
Por ti:
Estudei, Toquei, Escrevi, Criei, Amei, Odiei
Há dezoito anos que vivemos no mesmo ser
Essa é a nossa metafísica filosófica
Estarei sempre preso a ti e contigo morrerei
Como um molécula inquebrável
E quando nos admirarem daqui a cem anos
Saberão que génios fomos os dois
E génios serão aqueles que lerem aquilo que escrevemos
E entenderem o que escrevemos sem nos chamar «malucos»

Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O Meu Brinquedo


Hoje pequeno entro no meu quarto
Sozinho sem um único brinquedo
Invento um brinquedo para ficar entretido
Depois de feito guardo-o no bolso
À procura de alguém saio de casa perdido
E pela rua escura passeio
Quando ao virar da esquina encontro
O mundo a chorar desiludido
Aproximo-me e pergunto
Se queria brincar comigo
E o mundo responde tremendo
Que esperava um rapaz que lhe perguntaria isso
E que esse rapaz era o escolhido
Iria inventar um brinquedo para brincar sozinho
Que traria no bolso para oferecer ao mundo
E eu digo
Mas mundo, este é o meu único brinquedo
Que fiz para brincar sozinho
E diz o mundo
Que esse meu brinquedo
Iria ser muito importante para o ser humano
E que iria ensinar o ser humano a ser humano
Então eu estico o braço
E ofereço o meu brinquedo ao mundo
O mundo surpreendido
Olha para o brinquedo
Contemplando-se a si mesmo
Com o brinquedo pousado no colo
E apontou o dedo
Olho para onde apontava o mundo
Apontava para o universo
Então o mundo diz baixo ao meu ouvido:
Deste-me o teu brinquedo
Obrigado!
Agora vou-te dar o meu brinquedo
Leva-o! agora é teu o universo
E o mundo mostra-me o seu sorriso
Agarro no universo e guardo-o no bolso
Agora o universo é o meu novo brinquedo
Para brincar quando estiver sozinho
E assim agradeço e despeço-me do mundo

Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Quem sou eu, senão eu!?



Quem sou eu, senão um louco!?
Que foi concebido, para desafiar um génio
Que sou eu, senão um tolo!?
Que por aceitar a minha pátria, irei morrer desconhecido
Quem sou eu, senão um poeta!?
Que por ser eu, nunca ninguém acreditou
Quem sou eu, senão um rapaz!?
Que triunfou na guerra e já não quer viver na paz
Quem sou eu, senão um parvo!?
Que por se achar um génio, pobre, caiu morto
Quem sou eu, senão tu crucificado!?
Que por ser crucificado, acabou imortalizado
Quem sou eu, senão um doente trocado!?
Que por estar trocado, escreve ao contrário
!direito tudo escreve torto ser por Que
Que por ser escrito torto, não é bonito!
!fruto um ser é Bonito
Quem sou eu, senão tudo!?
Que me falta aprender, se já sei tudo!?
E aquele génio, que sabia tudo e estava errado
Eu, que por ter duas cicatrizes
Sou dos pacientes mais felizes
Quem sou eu?
Senão eu?
Sentado em cima do teu
(Ser)
A pensar
Naquilo que a minha mãe me deu
Nesta doença de mundo
Que por ser uma doença é meu!
E que por ser meu é teu!
Deixa-me morrer sossegado!
Porque morrer sossegado, é o meu verdadeiro eu!

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 21 de maio de 2013

A Bola Anti-stress


Bola anti-stress
Quanto mais se aperta
Mais stress se tem

Com stress
Começa-se a ver a bola, pela janela
Bola que será de alguém

Com mais stress
Cada vez mais perto a bola da janela
Bola que será de quem?

O fim do stress
A bola parte a janela
Agora mais que nunca a bola é de alguém


Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Arrogância


Olho para ti do fundo da rua
O teu cérebro é vazio!
E o que resta… Não presta!
Os teus neurotransmissores propagam-se 
Como o som se propaga no vazio
Não se propagam! Silêncio, sem movimento
Andas pela rua para cima e para baixo
Como se em ti um professor catedrático
Mas não ensinas nada e nada aprendes devido 
a esse “pensamento” de sabe-tudo
Cerras os olhos e falas
Mas da tua boca só saem pássaros sem asas
Que tentam voar e caem a teus pés
E eu curvo-me para apanhar os pássaros (coitados)
E tu olhas para mim com arrogância e superioridade
Como se tivesse a prejudicar-te
Ao apanhar esses pássaros sem asas
Que tiveste a delicadeza de inventar
Tristemente, que mente tens? Serve para pensar?
Penso enquanto os apanho e tos dou à mão:
Que pena, não mereces sequer ser um cão
Porque um cão pensa, à sua maneira, mas pensa
Eu ignoro esse teu olhar e dou-tos à mão
Uma caridade que faço pelo meu coração
E sigo feliz o meu caminho
E tu feliz, superior, na tua ilusão

Bernardo dos Santos Morgado

domingo, 19 de maio de 2013

Sanidade, Insanidade


Estava a caminhar por uma rua
Quando reparei pelo canto do olho
Num hospício, e à entrada um louco sentado 
Que preocupado mexia os braços no ar
Tentava apanhar algo que eu não via
Abria bem os olhos como se no ar
Fugisse algo que queria muito apanhar
Contemplei a insanidade, a pensar
O que vê ele que eu não vejo?
Quem estará realmente louco?
Quem estará certo?
Quem estará errado?
Ele no ar conseguiu apanhar algo
Esboçou um sorriso feliz, olhando
Para as suas mãos pousadas no colo
Feliz apanhou aquilo que perseguia
E eu?
Escrevo                          escrevo
         escrevo                          Escrevo
E não consigo alcançar o que persigo
Senão uma satisfação no momento
Quem é feliz? Eu ou ele?
Quem é o louco?
Eu nem sei bem o que procuro
E o louco que encontrou
O que procurava tão feliz e convicto
E se eu me tornasse louco?

O louco liberta o que havia agarrado
Olhou para mim com um sorriso
O sorriso mais são por mim visto
Invejei aquele sorriso
Quero ser louco!
Para ser correto e assertivo
Para conseguir ver aquilo
Que não vejo nem encontro
E que fez feliz o louco
Até que a tremer acordo
E logo percebo
Que já sou louco

Bernardo dos Santos Morgado

sábado, 18 de maio de 2013

O Quadro Perfeito


Viro costas ao mundo
De frente para a minha sombra, danço
Na minha sombra vejo-me perfeito
Na minha cabeça componho
A música mais perfeita do mundo
A nova sinfonia do tempo
Ouço-a até ficar surdo
Com a mão dada a um louco
Eu mesmo do outro lado
Mais forte do que alguma vez fui fraco
Espero a lua dançando num beijo
Que dou a mim próprio
Ao meu génio louco
Enlouquecendo na sombra, espero
E na minha imaginação escrevo
E vou pintando o quadro perfeito
Depois de escrito e pintado
Digo adeus ao mundo
E assim me despeço
Num quadro perfeito
Na sinfonia do tempo


Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Serei



Cheguei
E rasguei
O ventre da minha mãe
Cresci e sonhei
Com um trono digno de um rei
Mas sem ser rei cá fiquei
E erro a erro aperfeiçoei
E agora a um passo da vitória, andei
E a vitória alcançei
Com a mesma força que rasguei
O ventre da minha mãe
E amanhã no meu bolso trarei
Dezoito obras perfeitas, dignas de um rei
Que nos meus dezoito anos criei
E nos próximos anos farei
Mais que qualquer rei
Porque este mundo parado, abanei
Comecei e mudei
E agora sou rei
Mais do que qualquer poeta foi na poesia rei
E hoje sei:
Ontem cheguei, rasguei, fiquei
Hoje mudei e criei
Amanhã, infinito serei!

Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Loucura


Hoje estou louco!
Hoje escrevo inexistências
Escrevo fantasias
Sobre a tua consciência!
Hoje estou calmo
Mas louco
Corro dentro da tua demência!
Hoje vivo como um parasita da tua ignorância!
Hoje canto: REQUIEM!
MORRE!
Nasce de novo!
Para te ver a morrer de novo!
AH! AH! AH!
Hoje estou doente, só vejo fumo…
Que fumo é este?
Ah, do meu cigarro…
Hoje vou tentar inventar uma máquina que leve
A humanidade a Marte
Hoje estou doente de tal forma
Que me rio!
De mim mesmo!?
Oh tu dos céus parte-me com um raio!

Parece que não.
Porque escrevo eu sobre a ignorância
Humana da humanidade desumana?
Hoje sou o perfeito humano!?
Não tanto.
Se fosse um pouco…
Um pouco mais…
Louco
Aí seria!
Seria talvez o humano mais humano de todos
O perfeito louco que humano inventado foi
foi O louco inventado que perfeito humano
E este céu tão escuro?
E o mar que o reflecte?
Hoje estou louco?
E o mar que reflecte o céu
E o céu que nos reflecte a nós
NÃO!
Não olhes o céu!
Hoje o mundo está invertido!
O coelho caçou o lobo!
O ladrão prendeu o polícia!
A poesia escreveu-me!

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 14 de maio de 2013

O Tempo


Não chega
Nem para ser tempo
Não chega
Nem para pensar e fazer
Nem para arrepender e remediar
O tempo está a acabar
Não tive tempo de viver
Já não vou a tempo de ter
O tempo está a fugir
Agora que apostei tudo
Não vou ganhar
Agora que dei tudo
Vou perder
Agora que estava a crescer
Vou morrer
O tempo não vai chegar
Porquê?
Os segundos correm
E eu corro atrás
Agora já acabou
Tanto faz
Lá vai a vida
Ficou para trás

Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Faz-te completo

Para seres concreto
Se não fores completo
Serás o mínimo
Serás discreto
Pior que tudo
Incompleto!
Serás um som que não se propaga no universo
Serás uma palavra curta e errada, num verso
Escrito por um poeta enganado
Serás uma tarde de um dia de inverno
Que acaba mais cedo por ser inverno
Só te resta ser completo
Neste mundo incompleto
Que se descreve num poema vazio

Bernardo dos Santos Morgado

domingo, 12 de maio de 2013

Arma




Chamaram-me Arma
Fizeram-me de Aço
Com cano estriado
De fácil funcionamento
Gatilho-cão-espoleta-cano-alvo

E deram-me um objectivo
Disparar uma bala
Uma bala seguida de outra
Na direcção que sou apontado
Apontas-me
Disparas-me
Mas eu sou uma arma que pensa!
Encravo!
E quando com desespero
Rápido com medo
Bates no carregador
Para desencravar
Eu disparo!
Mas disparo
Na direcção da tua ignorância
Sou tão rápido que não tens tempo
Nem de ouvir
Nem de ver
Nem de fechar os olhos
Mas terás tempo para pensar
Nos teus últimos segundos
E nos teus últimos segundos pensarás:
Ignorantes as balas que conspiraram contra mim
Porque eu sei tudo e a saber tudo morri

Bernardo dos Santos Morgado

sábado, 11 de maio de 2013

A Minha Filosofia



Se hoje posso escrever tudo
O que existe para escrever

Escrevo!
Amanhã logo invento que escrever
Se tudo o que existe hoje já tenho
Amanhã invento que ter!
A ciência diz que os recursos são limitados
A poesia diz que tudo é infinito
E eu, o que sou?
Limitado ou infinito?
Quem está certo?
A ciência ou a poesia?
Ou os dois?
Ou eu?
Eu estou certo no que penso
E no que penso acredito
Porque sou eu que penso
Mas eu estou certo?
E o que está certo, está certo?
Na ciência o que está certo hoje
Amanhã está errado
Na poesia o que está certo hoje
Amanhã está certo
Eu o que sou hoje serei amanhã?
A filosofia
É incerta
Cada ideia
Em cada cabeça
E cada cabeça em cada pessoa
Mas cada pessoa que tem uma cabeça
Tem uma ideia?
E cada cabeça funciona?
Cada cabeça funciona
À sua maneira
E a filosofia de pessoas erradas?
Está errada ou está certa?
Para essa pessoa estará certa…
Marx filosofou
Acertou!
Acertou?
Liberdade filosófica?
Liberdade poética?
A minha ideia é a minha filosofia
A minha palavra é a minha poesia
Certa ou errada…
É minha

Bernardo dos Santos Morgado

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Mensagem para a Morte



Não tentes entender-me
Ninguém me entende
Chama-me quando chegar a hora
Não pelo meu nome!
Não és digna!
Não tentes!
Segue-me e aprende
Mas quando me chamares
pela escrita chama-me:
Camões, Pessoa, Negreiros, Régio, Pina, Poe, Eliot!
Quando me chamares
pela música chama-me:
Mozart, Verdi, Vivaldi, Beethoven, Bach, Mahler, Liszt, Bizet!
Quando me chamares
pela pintura chama-me:
Da Vinci, Picasso, Goya, Monet, Matisse, Caravaggio!
Quando me chamares
pela obra chama-me: Deus!
Não me chames pelo nome!
Chama-me: Legião!
Quando olhares para o meu coração
São!
São vários!
São todos os génios!
Não me chames pelo nome!
O meu nome vai ser mais forte!
Mais forte que eu!
Mais forte que o teu!
Mais forte que tu!
Serei tudo!
Serei tanto, que tu mesmo
Tu mesmo, Morte
Tu que chegaste do norte
Olha de lá uma estrela
Minha!
Que olha por o que é meu
O que é teu?
Senão a condenação
A maldição…
O que é meu?
Uma Legião!
Chama-me Pai!
Porque fui eu!
Fui eu que te escrevi!
Sob a minha estrela
Quando te escrevi
Sobre ti, a estrela cresce
Sobre mim, a estrela brilha
Quando me vieres buscar, veste
O teu melhor fato
O teu melhor fato de morte
Ajoelha-te!
Ajoelha-te e pede com humildade!
Porque nesse dia levarás todos
Todos os génios
Até lá não me chames!

Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 9 de maio de 2013

E o Mundo Gira


Penso, mas penso demais
Quando olho as pessoas
Não consigo parar de as ver como animais

A comunicar umas com as outras como tais
Todas pessoas procuram alguma coisa, ou não!?
Que procuram eles, parados, estagnados?
Ignorantes, falam uns com os outros
Tentam integrar-se, num mundo de animais
O que faço? Vou falar com os animais…
Mas rapidamente me desinteresso, são todos iguais
As mesmas conversas vazias, as mesmas histórias
As raparigas de 14 anos, ordinárias
Os rapazes de 14 anos, drogam-se às portas das escolas
E os pais dessas crianças, que não vêem, nem querem ver mais
E assim gira o mundo à minha volta!
Aquele rapaz negro, que saiu agora da barraca
Sem nada para comer, forçado, rouba
Todos fracos, frágeis, doentes
Aquele rapaz de 15 anos que tenta seduzir as raparigas
Ao mostrar a faca, que traz no bolso
Aquele professor tarado, que fala com as alunas no intervalo…
E assim gira o mundo à minha volta!
Podre, como uma laranja, que é rejeitada pela própria árvore
E assim o mundo de animais (i)racionais
Gira, em torno de mim, e eu não tento!
Não tento integrar-me!
Neste mundo sujo, que tenta engolir-me
Para ser um animal
Como aqueles dois rapazes de 16 anos
Que atrás do pavilhão da escola
Fazem sexo todos os dias
Como animais

Bernardo dos Santos Morgado

O Cigarro



Acendo um cigarro
Penso...
Fumo...
Escrevo...
Penso no que poderia ler
Penso no que poderia escrever
Penso até onde poderia ir
Subir
Até onde poderei chegar
Volto a pensar
Volto a fumar
Volto a escrever
O cigarro é como a vida
Um dia irá apagar
Às vezes sabe melhor
Às vezes sabe pior
Às vezes fuma-se demais
Quanto mais se fumar
Mais rápido se vai
Penso...
Fumo...
Escrevo...
Até o cigarro se apagar
Só o fumo irá ficar
Só a cinza irá ficar
Até o vento os levar
Quando o cigarro se apagar

Bernardo dos Santos Morgado     

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Os Vermes



Os vermes nasceram
Chove
Os frutos caíram
Apodreceram
O tribunal dos vermes
Culpa os frutos
Por apodrecerem
Os frutos choram
Pedem
Aos vermes que não os comam
Mas os vermes
Comem os frutos
Comem as cores
As cores que ficaram
Não brilham
Os vermes governam
Os céus escurecem
Impõem-se grades à liberdade
Assim a liberdade morreu
A máquina parou
Os vermes multiplicaram-se
E o fim chegou

Bernardo dos Santos Morgado