Dois homens entram numa sala
Um claro de cabelos louros
Um escuro de cabelos escuros
Reconheceram-se e sentaram-se à mesa
O claro: Chamo-me deus
E tu como te chamas?
Por onde andas?
E tu como te chamas?
Por onde andas?
O escuro: O meu nome é diabo
Ando por um lugar que chamam inferno
Que eu chamo casa
Os meus amigos convido
Para lá irem viver comigo
Um lugar lá em baixo
De fogo, vermelho
E tu onde tens morado?
Ando por um lugar que chamam inferno
Que eu chamo casa
Os meus amigos convido
Para lá irem viver comigo
Um lugar lá em baixo
De fogo, vermelho
E tu onde tens morado?
O claro: Moro num
lugar a que chamam paraíso
Que eu chamo casa
Que os meus amigos convido
Para lá irem viver comigo
Um lugar lá em cima
Fresco de flores, colorido
Que eu chamo casa
Que os meus amigos convido
Para lá irem viver comigo
Um lugar lá em cima
Fresco de flores, colorido
O escuro: Ah! Nós somos…
Aqueles que todos falam
E nunca viram
Que todos acreditam
Aqueles que todos falam
E nunca viram
Que todos acreditam
O claro: Aqueles que de tudo justificam
Quando há guerra culpam
Quando há guerra culpam
O escuro: Ainda não sei
Que fiz eu para ninguém
Gostar de mim
Que fiz eu para ninguém
Gostar de mim
O claro: A mim todos gostam, todos viram
A mim todos pedem, mas nada fazem
Riso mostram, falsidade escondem
A mim todos pedem, mas nada fazem
Riso mostram, falsidade escondem
O escuro: De mim todos fogem
A mim culpam
¿Eu que sou a razão
De toda a sua podridão!?
Que merecem eles!?
Senão aquilo que têm!?
Miséria para nela brincarem
Vícios para mais rápido morrerem
Armas para se matarem
A mim culpam
¿Eu que sou a razão
De toda a sua podridão!?
Que merecem eles!?
Senão aquilo que têm!?
Miséria para nela brincarem
Vícios para mais rápido morrerem
Armas para se matarem
O claro: Perfeito, dou-lhes música
Literatura e a pintura
Génios de tempos em tempos
Para alguma coisa aprenderem
Literatura e a pintura
Génios de tempos em tempos
Para alguma coisa aprenderem
O escuro: Dá-lhes isso!
Para nos escreverem
Para nos pintarem
Para nos cantarem
(Riso)
Para nos escreverem
Para nos pintarem
Para nos cantarem
(Riso)
O claro: Mal nos escrevem
Mal nos pintam
Mal nos cantam
Mal nos pintam
Mal nos cantam
O escuro: De louco me tomam
E de ignorância abundam
E de ignorância abundam
O claro: Realidade turva, mal feita
Transe da espécie humana
Qualquer dia desisto
Com a mesma certeza
Que me escrevem
O escuro: Realidade estúpida, bem feitaTranse da espécie humana
Qualquer dia desisto
Com a mesma certeza
Que me escrevem
Transe da espécie humana
Qualquer dia insisto
Com a mesma certeza
Que me pintam
Que os humanos se afundem
Com a mesma certeza que nos cantam!
Bernardo dos Santos Morgado
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