quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O Ponto Fixo


Deitado no chão
Reparo num ponto escuro no tecto
Fixo o meu olhar no ponto
Passado pouco tempo
O ponto parece estar em movimento
Parado, no mesmo sítio
Passo a língua nos dentes
Sinto as falhas
Alguém as fez
Passo com a mão direita na cicatriz
Passo com a mão esquerda na outra cicatriz
E penso em quem as fez
Onde estarão? Serão felizes?
Da vida deles em mim deixaram as cicatrizes
E o ponto fixo parado vai mexendo

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Mente Brilhante

                                                                                    (inspirado na vida de Nash)


O gato vai desaparecendo
À medida que o tempo vai passando
Génios Génios
Somos todos génios
Procuramos
E nunca encontramos
Dia após dia
Até a vida ser nada
O reconhecimento
Não encontramos
Génios somos tantos
E todos procuramos
Génios somos todos
Tirando os outros todos
Depois veem os prémios
Não encontramos
Mais Mais
Para lá do universo
Onde está o infinito
Finito
Procuramos 
Até que morremos
Génios são tantos
Todos mortos
Com os seus prémios

Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Azul


Acordo na minha casa azul
Visto o meu fato azul
Antes de sair certifico-me que está tudo azul
E quando está tudo azul, atiro-me do céu
Quando chego à terra pinto tudo de azul
Pouco me importa se alguém não gosta de azul
Eu sou azul e pronto vivo no mundo que pintei de azul
No mundo que pintei de azul

Bernardo dos Santos Morgado

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Destino


Sempre a querer mais
Sempre a querer mais e mais
Nunca satisfeito
Sabendo apenas nada por completo
Havia de ter este destino?
Havia de querer este destino?
Cansado de procurar
E nunca encontrar
Deitado no chão a ver o sonho passar, já foi
Quando me levanto já não há
Já não existe
E nada cabe no bolso
Nem o destino

Mais vale desistir, do que perder tanto tempo a procurar

Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Palavras


Para quê usar palavras caras!?
Não sou rico
Vou usar palavras caras para quê?
Se com palavras pobres já ninguém lê!?

Visto aquilo que quero
Da forma que quero
E com as palavras acontece o mesmo
Escrevo as palavras que quero

Senão gostas ainda bem
Mais palavras sobram
E burrice já chega a que tenho
A dos outros não quero
Os outros incomodam

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Nenhum


Existimos perdidos
Em cada um de nós
Temos que nos encontrar em nós
Todos juntos estamos sós
Todos juntos não somos um
Se cada um fosse um
Então poderíamos ser algum
Mas todos somos vazios
Padrão tropa
Padrão rosa
Se cada um fosse completo
Todos juntos seríamos alguém
Todos nós não somos ninguém
Se tentássemos podíamos até ser alguém
Mas alguém muito pequeno
Sem pensar além
Pensar além só quem tem desdém
De não ser ninguém
Todos nós nascemos livres
Todos nós vivemos presos
Todos nós estamos perdidos
Num mar infinito de esquecidos
De homens mal acordados
No sonho de vida
Na vida de sonho
E que o sonho seja viver
Para ver alguma coisa nascer
Nem que seja de um ser outro ser
Nem que seja apenas morrer dentro de um ser
Que por ser e querer ser morrer chegue
Escolher o caminho que se pense certo e tentar
Vazio por cada um não ser cada um
Faz-te completo
Para eu e tu
Sermos dois
Para todos nós
Sermos alguns



Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ser um Génio


Génio
É o que pensa
Observa de outra forma
Discorda, não se conforma
Mas se discorda argumenta
E do erro descobre a forma
Resolver o problema
Como se fosse um enigma
Descobrindo a fórmula
Não tem conforto, porque pensa
Pensar custa, de tal forma
Que dedica a vida para descobrir tal fórmula
E o mundo agradece com a sentença
De não dar mérito se alcança
A descoberta, A esperança
Aceitar a mudança
Isso é ser um gênio.

Perseverança



Bernardo dos Santos Morgado

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Inquietude


A inquietude inquieta-se
Eu inquieto-me também
Penso o mesmo que a inquietude pensa
Desassossego-me também
Porque penso para lá do que é mal ou bem
Entrego-me à ignorância
Na esperança de ser ignorante volto à infância
Estou chateado com a minha mãe
E com o meu pai também
Deram-me um pensamento sem pensarem bem
Nesta triste tristeza a inquietação não vai, só vem
E na cabeça o pensar dói e no doer só o pensamento tem
Inquietude assossega-te!
Para me assossegar também
Estou farto de pensar (inquieto): em mim, em ti e na minha mãe
Estou inquieto porque existe
Estou inquieto porque desaparece
A inquietude não vai, só vem
Deixa-me estar inquieto sossegado!
Não quero ninguém a chatear-me: nem eu, nem tu, nem a minha mãe

Bernardo dos Santos Morgado