sexta-feira, 28 de junho de 2013

Conversa Divina


Dois homens entram numa sala
Um claro de cabelos louros
Um escuro de cabelos escuros
Reconheceram-se e sentaram-se à mesa

O claro: Chamo-me deus
              E tu como te chamas?
              Por onde andas?
O escuro: O meu nome é diabo
                Ando por um lugar que chamam inferno
                Que eu chamo casa
                Os meus amigos convido
                Para lá irem viver comigo
                Um lugar lá em baixo
                De fogo, vermelho
                E tu onde tens morado?
O claro:  Moro num lugar a que chamam paraíso
              Que eu chamo casa
              Que os meus amigos convido
               Para lá irem viver comigo
               Um lugar lá em cima
               Fresco de flores, colorido
O escuro: Ah! Nós somos…
                Aqueles que todos falam
                E nunca viram
                Que todos acreditam
O claro: Aqueles que de tudo justificam
             Quando há guerra culpam
O escuro: Ainda não sei
                Que fiz eu para ninguém
                 Gostar de mim
O claro: A mim todos gostam, todos viram
             A mim todos pedem, mas nada fazem
             Riso mostram, falsidade escondem
O escuro: De mim todos fogem
                A mim culpam
              ¿Eu que sou a razão
                De toda a sua podridão!?
                Que merecem eles!?
                Senão aquilo que têm!?
                Miséria para nela brincarem
                Vícios para mais rápido morrerem
                Armas para se matarem
O claro: Perfeito, dou-lhes música
              Literatura e a pintura
              Génios de tempos em tempos
              Para alguma coisa aprenderem
O escuro: Dá-lhes isso!
                Para nos escreverem
                Para nos pintarem
                Para nos cantarem
              (Riso)
O claro: Mal nos escrevem
             Mal nos pintam
             Mal nos cantam
O escuro: De louco me tomam
                E de ignorância abundam
O claro: Realidade turva, mal feita
             Transe da espécie humana
             Qualquer dia desisto
             Com a mesma certeza
             Que me escrevem
O escuro: Realidade estúpida, bem feita
               Transe da espécie humana
               Qualquer dia insisto
               Com a mesma certeza
               Que me pintam
               Que os humanos se afundem
               Com a mesma certeza que nos cantam!


Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Hoje o dia foi escuro


Hoje o dia estava a esmorecer
Num escurecer de morrer

Hoje o dia estava a tremer
Num grito de estremecer

Hoje o dia estava a chorar
Num pedir a implorar

Hoje o dia estava a custar
Num fugir a cair

Hoje o dia foi devagar
A escrever e a pensar


Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Armadilha


Estou preso
Preso a mim
Preso a este corpo
E a este pensamento
Não consigo ser o que quero
A natureza não me deixa ser o que quero
Estou nesta armadilha sem fim
Nesta armadilha
Que está dentro de mim
Quero sair de mim
Para voar, voar sem rumo
Como areia que voa no vento
Quero ver-me de fora, como pareço
Como sou por completo
E dissipar-me no Universo
É só isto que peço

 Peço pouco


Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 25 de junho de 2013

Nesse Dia que Chovia


Para D. S. Araújo
Se eu não soubesse.

Se eu não soubesse que existias
O amor não conhecia
O amor não existia
Nada existia
A noite era dia
O dia era nada
Nesse nada apenas chovia
A vida era nada
Eu era nada
E o pensar doía
Só tu me deste o que queria
O que precisava
Sem ti o sol não brilhava
Nada era o que devia
Mas do nada me tiraste
Para uma nova vida
Uma nova sorte
Uma nova escrita
Onde o nada já não existe
Nesse dia que chovia


Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Pensamento



Lê estas palavras
Entendes alguma coisa?
Sentes algo?
Eu sinto porque fui eu que deixei escrito
Sinto o que penso e o que conheço
Sinto o que desconheço
Sinto que procuro. Conhecer mais
Pega na caneta e escreve
Escreve como eu
Pega num livro e lê
Lê como eu
Diz-me se não és feliz por um momento
Diz-me se não existe em ti um pensamento
Não vês as palavras de outra forma?
Pensa!
Pensa no que escreveste
Pensa no que leste
(Se realmente existe em ti o pensamento)
Pensaste?


Bernardo dos Santos Morgado

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Meu amor (I)


Ainda me lembro
Quando nos conhecemos
Tu de preto
Eu de preto
Andávamos perdidos
Até que nos encontrámos
Lembro-me:
Quando te ofereci o fio de prata
Quando me ofereceste o isqueiro de prata
Prata que ainda brilha como nós
Meu Amor serás sempre meu
E eu sempre teu
Até nos irmos


Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Vida (III)



A vida é azul no céu
A vida é verde nos campos
A vida é vermelha no sangue
A vida é transparente na água
A vida é preta na noite
A vida é castanha na terra
A vida é branca nas estrelas
A vida é amarela nas flores
A vida não tem cor na morte



Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Sempre a Mesma Coisa


Acordo na mesma cama
Visto a roupa que sempre tive
Vou comer a mesma comida
Saio de casa sempre para a mesma rua
Apanho o mesmo comboio
Que passa à mesma hora todo o ano
Chego sempre atrasado à mesma escola
Para ter aulas na mesma sala
Com os mesmos professores
Que irão ensinar a mesma matéria de sempre
Que sempre foi ensinada
Volto apanhar o mesmo comboio
Para voltar à mesma rua
Entro na minha casa que não muda
E deito-me em cima da mesma cama
Tenho o mesmo sonho e espero
Que o dia seguinte seja a mesma coisa


Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 18 de junho de 2013

A Rainha


Rainha
que alguém enfeita
Passa
Passa
Pela rua
Que é tua
Toda tua
De minha não tem nada
Passa
Minha rainha
Canta
Que cantas sempre bem
Dispara
Se matares, não interessa quem
Pois és rainha
Mas rainha de quem?
Minha?!
De quem?
Sabes de quem?!
Vai!
Vem!
Matem!
Quem?!
Essa rainha
Que não é de ninguém!

Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 17 de junho de 2013

As Palavras


A
S        P
          A
          L
          A
          V
          R
          A
          S
C
A
E
M

E eu apanho-as…
Agora são minhas!
Escrevo Poesias
A
    T
        I
           R
               O   
                    A
                         S
Agora são tuas!
Ofereço-tas!
Trata delas
Como se fossem tuas Filhas!

Bernardo dos Santos Morgado

domingo, 16 de junho de 2013

Não Ser



Triste é viver
Quando não se vive 

o que se quer fazer
Triste é ser
Quando não se é 

o que se quer viver
Triste é morrer
Quando não se morre 

o que se quer escrever
Triste é escrever
Quando não se escreve 

o que se quer morrer

Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Não Me Arrependo

Não me arrependo
De nada, se aquilo
que aconteceu, aconteceu por um motivo
Foi e fez de mim o que sou hoje
Não me arrependo de nada
Hoje sou melhor que alguma vez fui
Amanhã serei melhor do que sou hoje
Não me arrependo.
Todos os passos que dei levaram-me a este caminho
Olho os que caminham a meu lado
Conquistaremos um lugar na história
A tabuleta ao nosso lado:
                        Distância: Infinito
                         Lugar: História
Nessa tabuleta por baixo
está escrito: “I know not what tomorrow will bring”
(a ultima frase de Fernando Pessoa)
e por baixo escrevo: Tomorrow will bring us everything
                                  We don’t need to fear nothing
                                  Fire is always burning
                                  Lilacs still growing
                                  Words still writing
                                  We still living
E sigo o meu caminho
Nada arrependido

Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Mar


Mar, o sol em ti refletido
tu reflectido nos meus olhos
na praia te vejo 
chegar em ondas
transportam tantas histórias
e eu que as terei de escrever todas
nós os dois
debaixo do mesmo sol, 
a partilhar as mesmas palavras
dá-me inspiração, 
e eu dou-te os meus poemas
dá-me o teu coração, 
e eu dou-te as minhas pernas
para te levar a todo o lado na minha mão
neste poema

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 11 de junho de 2013

A Mentira



Veste-se
Mascara-se
Anda pela rua
Altiva
Confiante
Inventada
Por alguma
Mente
Ri
Mente
Chora 
Mente
Sente 
Mente
Passa
Mente
Fala
Mente
Canta
Mente
Olha
Mente
Não passa de uma mentira
Cansada de ser mentira, despe-se

Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Vida (IV)


Só existe doce se existir amargo
Só há amor se houver ódio
Só há segurança se houver perigo
Só existe música se existir silêncio
Só existe felicidade se existir tristeza
Só se alcança a vitória se houver derrota
Só se vê a diferença se existir indiferença
Só se sente carinho se se sentir a violência
Só existe prazer se existir dor
Só existe sorte se existir azar
Só existe Vida se existir Morte


Bernardo dos Santos Morgado 

sábado, 8 de junho de 2013

Formiga Trabalhadora


Não escolhi nascer formiga
Mas formiga nasci
Nasci para trabalhar
Ouvir e calar.
Sem pensar nem ponderar.
Sem sonhar nem alcançar
O trabalho chega
O trabalho vai
E só isto eu sei
O tempo passa
E em cima de mim tudo cai
Rainha: Vai trabalhar!
E ela vai.
Sem pensar.
Sem questionar.
Para a rainha a alimentar
Para a rainha satisfazer
Até o dia chegar
Irá morrer a trabalhar.

Bernardo dos Santos Morgado

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Político

Este poema te dedico:
Se a crise fosse tua... também a inventavas?
Se te tirassem a casa e o carro a gravata e o cargo
Se te fizessem passar fome...
Gritarias? Grita à vontade.
Ninguém te ouve como tu não ouves ninguém
Só os ignorantes que votam em ti!
Como consegues ver tanta miséria
Sabendo que foi invenção tua,
E continuar com um sorriso na cara!? (Hipócrita!
Se o teu mal fosse para contigo, para contigo mesmo!
Com dinheiro que roubas compra um espelho
Olha bem para ti e vê-te a desfazer!
Como uma parede velha pouco a pouco
Até sobrar no chão apenas o fato
E as mentiras todas se tenham evaporado
Mas logo aparece outro político
Com probabilidade até de ser com o mesmo fato
E a miséria é nova mas a nova miséria é mesma que a antiga
Grécia porque inventaste as políticas? (agora nelas te afogas
Como o resto de nós que damos aos remos
Mas sabemos e esperamos entrar em águas profundas
Se eu fosse um rei-escritor
Político para ti a minha poesia seria uma guilhotina.

Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Vem


Vem, vou mostrar-te o que vejo e o que sinto
Vou mostrar-te como escrevo e como vivo
Vou levar-te de volta à infância
Para veres como eras em criança
Vou dar-te de novo a esperança
Vou mostrar-te como fiquei sozinho
Vou fazer-te lutar por um político
Para veres como é ridículo
Vou fazer ver-te a violência
Como quando eu a vi a primeira vez
Vais sentir as minhas cicatrizes
Vou fazer-te sentir o que uma mãe sente
Quando perde um filho
Vou fazer-te sentir o que um filho sente
Quando perde uma mãe
Vou pôr-te dentro daquele
Cão que abandonaste
Vou pôr-te na pele daquele
Velho que caiu e que tu riste
Vou fazer-te sentir o que sentiu aquele
Cego quando te pediu ajuda e o ignoraste
Vou pegar em ti agora e dou-te
Os meus olhos e a minha consciência
Agora observa-te. [Vê lá se respiras...
Olha para o Sol!
Porque achas que te cega?
Não és digno de o olhar!
Queres fugir?
Ainda agora te estavas a rir
E a pensar só em ti [Ri-te agora...
Não?...
Porque não?...
Já sentiste a minha dor e a minha Vergonha?
Já o sentes agora?
Sai dessa casa e tira essa roupa
Deixa esse carro e vem viver comigo
Agora olha!
Olha para a tua arrogância e indiferença
Ajuda o velho
Não abandones o cão
Não ignores o cego
Ajuda-te e encontra-te a ti próprio
Agora olha o sol
Agora sim consegues vê-lo
Consegues ver o que eu vejo

A liberdade e a felicidade de tu seres Tu
A liberdade e a felicidade de eu ser Eu


Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Vida (II)


O caminho errado é sempre o mais fácil
O caminho certo é sempre o mais difícil
Por isso:
Quando era fácil fugir
Eu fiquei
Quando era fácil aceitar
Eu recusei
Quando era fácil odiar
Eu amei
Quando era fácil destruir
Eu criei
Quando era fácil perder
Eu ganhei
Quando era fácil desistir
Eu lutei
Quando era fácil tirar
Eu dei
Quando era fácil ignorar
Eu pensei
Quando era fácil acabar
Eu comecei
Quando era fácil calar
Eu falei
Quando era fácil culpar
Eu assumi
Quando era fácil esconder
Eu mostrei
Quando era fácil morrer
Eu vivi!

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 4 de junho de 2013

Poeta


Poeta

Olhaste por mim
Deste-me o mundo
 Esqueceste-te do ponto
Infinito
Esqueceste-te do limite
Imortal
Nada está acima de mim
Morte
Nada
Sorte
Força? Sem fim
Palavras? Tudo
A minha respiração
Vento
A minha força
Mar
A minha vontade
Terra
O meu pensamento
Fogo
O meu objectivo
Tudo
A minha vida
Universo
Nada é inalcançável!
Tenho Tudo
Poesia


Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Natureza e o Homem


Natureza perfeita, imperfeita
Que nos usas e censuras
Natureza, que inventaste a felicidade
Porque inventaste a tristeza?
Natureza que nos deste inteligência
Porque nos deste ignorância?
Natureza porque nos dás a força?
Para nos testares na sobrevivência?
Natureza que nos trouxeste a música
Porque nos tiras a audição?
Natureza que nos trouxeste a beleza
Porque nos tiras a visão?
Porque nos castigas?
E nos fazes ser parasitas?

Tu homem!
Que és estúpido e ignorante
E não percebes a natureza
Porque inventaste o dinheiro?
Para alguns terem riqueza?
Para outros terem pobreza?
Porque inventaste a política?
Para alguns terem Hitler?
Para outros terem Estaline?
O que é ao certo a política?
Porque te escondes na religião?
Porque te escondes em matilhas e em armas?
Para nada te servem as palavras!
Escondes-te no racismo!
Escondes-te no vício!
Escondes-te na violência!
Enquanto fores ignorante e te iludires de conhecimento
Não vês os que se sacrificam por ti e pelo conhecimento
Tu!
Aprende e mantém o equilíbrio entre a ignorância e cultura!
Ouve Mozart!
Ouve Mahler!
Ouve Bach!
Lê Régio!
Lê Negreiros!
Lê Pessoa!
Vê Goya!
Vê Van Gogh!
Vê Picasso!
Aprende com isto tudo
Para que sirva de algum motivo
Eles terem vindo ao mundo



Bernardo dos Santos Morgado

domingo, 2 de junho de 2013

Eu


Sou o que Sou
Vejo o que Vejo
Faço o que Faço
Amo o que Amo
Acredito no que Acredito
Sinto o que Sinto
Odeio o que Odeio
Acho o que Acho
Escrevo o que Escrevo
E mesmo assim,
Desconheço quase tudo

Mas a cima de tudo Eu:
Vejo o que Sou
Faço o que Penso
Acredito no que Amo
Amo o que Sinto
Sinto o que Escrevo
Escrevo o que Acho
Odeio o que Desconheço


Bernardo dos Santos Morgado                

sábado, 1 de junho de 2013

O Sorriso da Criança


Quando uma criança sorri
O mundo muda
A criança deseja
A criança sonha
O desejo do mundo é a criança
E o meu sonho é o sorriso da criança
O sorriso a esperança
A criança
A inocência
A lembrança de ser criança
Uma harmonia
A criança canta
E o nosso orgulho dança
Eu no sorriso da criança
Olho para cima com confiança
E digo: Um dia voltarei a ser criança!

Bernardo dos Santos Morgado