quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Destino


Sempre a querer mais
Nunca satisfeito
Sabendo apenas nada por completo
Havia de ter este destino?
Havia de querer isto?
Cansado de procurar
E nunca encontrar
Deitado no chão a ver o sonho passar
Quando me levanto já passou
Já não existe
E nada cabe no bolso
Nem o destino

Mais vale desistir, do que perder tanto tempo a procurar

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 17 de setembro de 2013

As árvores Negras

Persegue os teus sonhos
E vê-os fugir
Por entre as árvores Negras
Da tua imaginação
E se caíres
Saberás que a tua mãe.
Apenas ela te sufocará
Saberás que só a tua mãe.
E aí
,Quando chegares aí
Terás filhos e filhas
Que perseguirão os seus sonhos
E quando caírem. Só tu
Estarás lá
E saberão que só tu.
É quando chegares aí
Que saberás:
Já morreram os teus sonhos.
E as árvores Negras
Serão o caminho a seguir
Pelos teus filhos
E por desejares desesperadamente
O seu sucesso
Os sufocarás
Como foste sufocado
Pela tua mãe
E por alguém que vê tudo
Te pede dinheiro
E te castiga
Mas que te ama
E não esqueças isso
Nunca esqueças isso
As árvores Negras
Agora mais que nunca
São tuas e dos teus filhos

Não esqueças o Sol
Que te cega
Foi ele que fez crescer as árvores Negras
Na tua imaginação

Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O Ponto Fixo


Deitado no chão
Reparo num ponto escuro no tecto
Fixo o meu olhar no ponto
Passado pouco tempo
O ponto parece estar em movimento
Parado, no mesmo sítio
Passo a língua nos dentes
Sinto as falhas
Alguém as fez
Passo com a mão direita na cicatriz
Passo com a mão esquerda na outra cicatriz
E penso em quem as fez
Onde estarão? Serão felizes?
Da vida deles em mim deixaram as cicatrizes
E o ponto fixo parado vai mexendo

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Mente Brilhante

                                                                                    (inspirado na vida de Nash)


O gato vai desaparecendo
À medida que o tempo vai passando
Génios Génios
Somos todos génios
Procuramos
E nunca encontramos
Dia após dia
Até a vida ser nada
O reconhecimento
Não encontramos
Génios somos tantos
E todos procuramos
Génios somos todos
Tirando os outros todos
Depois veem os prémios
Não encontramos
Mais Mais
Para lá do universo
Onde está o infinito
Finito
Procuramos 
Até que morremos
Génios são tantos
Todos mortos
Com os seus prémios

Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Azul


Acordo na minha casa azul
Visto o meu fato azul
Antes de sair certifico-me que está tudo azul
E quando está tudo azul, atiro-me do céu
Quando chego à terra pinto tudo de azul
Pouco me importa se alguém não gosta de azul
Eu sou azul e pronto vivo no mundo que pintei de azul
No mundo que pintei de azul

Bernardo dos Santos Morgado

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Destino


Sempre a querer mais
Sempre a querer mais e mais
Nunca satisfeito
Sabendo apenas nada por completo
Havia de ter este destino?
Havia de querer este destino?
Cansado de procurar
E nunca encontrar
Deitado no chão a ver o sonho passar, já foi
Quando me levanto já não há
Já não existe
E nada cabe no bolso
Nem o destino

Mais vale desistir, do que perder tanto tempo a procurar

Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Palavras


Para quê usar palavras caras!?
Não sou rico
Vou usar palavras caras para quê?
Se com palavras pobres já ninguém lê!?

Visto aquilo que quero
Da forma que quero
E com as palavras acontece o mesmo
Escrevo as palavras que quero

Senão gostas ainda bem
Mais palavras sobram
E burrice já chega a que tenho
A dos outros não quero
Os outros incomodam

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Nenhum


Existimos perdidos
Em cada um de nós
Temos que nos encontrar em nós
Todos juntos estamos sós
Todos juntos não somos um
Se cada um fosse um
Então poderíamos ser algum
Mas todos somos vazios
Padrão tropa
Padrão rosa
Se cada um fosse completo
Todos juntos seríamos alguém
Todos nós não somos ninguém
Se tentássemos podíamos até ser alguém
Mas alguém muito pequeno
Sem pensar além
Pensar além só quem tem desdém
De não ser ninguém
Todos nós nascemos livres
Todos nós vivemos presos
Todos nós estamos perdidos
Num mar infinito de esquecidos
De homens mal acordados
No sonho de vida
Na vida de sonho
E que o sonho seja viver
Para ver alguma coisa nascer
Nem que seja de um ser outro ser
Nem que seja apenas morrer dentro de um ser
Que por ser e querer ser morrer chegue
Escolher o caminho que se pense certo e tentar
Vazio por cada um não ser cada um
Faz-te completo
Para eu e tu
Sermos dois
Para todos nós
Sermos alguns



Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ser um Génio


Génio
É o que pensa
Observa de outra forma
Discorda, não se conforma
Mas se discorda argumenta
E do erro descobre a forma
Resolver o problema
Como se fosse um enigma
Descobrindo a fórmula
Não tem conforto, porque pensa
Pensar custa, de tal forma
Que dedica a vida para descobrir tal fórmula
E o mundo agradece com a sentença
De não dar mérito se alcança
A descoberta, A esperança
Aceitar a mudança
Isso é ser um gênio.

Perseverança



Bernardo dos Santos Morgado

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Inquietude


A inquietude inquieta-se
Eu inquieto-me também
Penso o mesmo que a inquietude pensa
Desassossego-me também
Porque penso para lá do que é mal ou bem
Entrego-me à ignorância
Na esperança de ser ignorante volto à infância
Estou chateado com a minha mãe
E com o meu pai também
Deram-me um pensamento sem pensarem bem
Nesta triste tristeza a inquietação não vai, só vem
E na cabeça o pensar dói e no doer só o pensamento tem
Inquietude assossega-te!
Para me assossegar também
Estou farto de pensar (inquieto): em mim, em ti e na minha mãe
Estou inquieto porque existe
Estou inquieto porque desaparece
A inquietude não vai, só vem
Deixa-me estar inquieto sossegado!
Não quero ninguém a chatear-me: nem eu, nem tu, nem a minha mãe

Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Na Rua da Esperança


Toda a gente corre
Toda a gente dança
Toda a gente ouve
Toda a gente canta
Toda a gente quer
Toda a gente alcança
Ninguém morre
Toda a gente descansa

Toda a gente que mora
Na Rua da esperança

Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Tenho Nada


Tenho nada
Consegui ter nada
Escrevo nada
Farto-me de ter nada

Aprendo tudo

Tenho tudo
Consegui ter tudo
Escrevo tudo
Farto-me de ter tudo

E agora?

Que percurso sigo?

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 23 de julho de 2013

Para Ser Feliz


Para ser feliz é necessário:


Assumir que se vive sozinho
Um coração, uma cabeça num só corpo


Amar o que se quiser amar
Mas pensar que um dia irá acabar
Um dia tudo irá acabar


Tentar ser livre ao máximo no pensamento
Seja religião, cor ou política


Falar, escrever, representar
Transmitir o que se está a pensar


Tentar realizar o sonho
O desejo tem que ser alcançado
Dar tudo por tudo
Mas nunca ficando preso a isso
E ter perfeita noção que pode não ser alcançado


Acreditar em tudo seja certo ou errado
Mas antes de acreditar saber se está certo ou errado


Pensar mas pensar pouco


Cuidar da saúde física e psicológica
Evitar a droga e a bebida



Ter amigos de confiança
Mas nunca depositar toda a esperança
Às vezes a vida engana


10º
Ter prazer a fazer seja o que for
As vezes que se quiser
Respeitando sempre o outro ser

Bernardo dos Santos Morgado

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Os sábios


As vezes penso
Para mim: gostava
De ter um sábio
Ao meu lado
Só depois me apercebo
Cada sábio está no seu livro
É só esticar o braço
Abrir a gaveta
E a ler os conhe
ço
Ensinam-me e eu aprendo

Leio e depois escrevo
Seja de sábios que pensem bonito ou negro
Que pensem certo ou errado

E de mim para eles na minha escrita agradeço

Por na minha secretária estar sentado
E com eles poder dar a volta ao mundo



Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Arrábida

                                                              (Dedicado a Sebastião da Gama

A primavera
As cores verdes
As flores
O vento que canta
Por entre as montanhas
O sol reflectido no mar

Perfeita

Arrábida
Perfeita
Que de Portugal é feita

Os teus segredos

Guarda-os
Bem lá no fundo
No fundo da montanha

Que eu escrevo-te a esperar o luar

Nem a morte me conseguiria levar

Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Primavera


Primavera
Que podia ser Primapatrícia
Que podia ser Todaafamília
Que até já fui Tudooquesou
Que agora Jánãosoutanto

Mas que bonita é a Primavera

E a Primajoana também
Pode-se dizer que o Tioverão trabalhou bem
E que a Tiainverno cuidou bem delas
Se não fosse eu o Primodelas
Quem seria o Primotudo?
Que é bastante amigo do Primouniverso
Que neste momento está com Primoescrevendo

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 16 de julho de 2013

Uma Tarde Numa Estação de Comboios


Existe mais poesia
Que idosos sentados num belo dia
De primavera
Numa estação de comboios movimentada
A rever a sua vida
Nas pessoas que a apanhar o comboio, na ida
Nas pessoas que a chegar de comboio, na volta
Numa tarde que demora uma vida
No perfeito descanso de uma reforma

Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Beijo Meu



Aquele beijo que foi meu
Mas não foi teu

Do céu desceu
Quando o meu coração bateu

No dia seguinte tudo morreu



Bernardo dos Santos Morgado

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Nada


Tenho escrito com erros
Tenho falado errado
Ando trocado
Já nem acerto nas escolhas múltiplas

E só assim percebo que não sei quase nada

Sei pouco ou quase nada
Escrevo nada
A minha vida não é nada

Vida é uma Era
E a nossa é feita de nada

Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O Criminoso


O criminoso sai de casa armado
A sua arma é o seu trabalho
Sem ela não é seguro

Mais um trabalho
Quando tem de ser, prime o gatilho
Correu bem, compra um carro
Correu mal, vai preso
E assim é a vida do criminoso
Sozinho sempre desconfiado
Quem é o verdadeiro amigo?

Recusa o amor
O amor torna-o fraco
E se o criminoso for fraco está acabado
Como irá criar o filho?
O filho é o seu ponto fraco
Alguém quer o seu lugar mas está ocupado

E quando se arrepende
Quer ser livre e honesto
Quer arranjar um trabalho para educar o seu filho
Mas está condenado
E do crime só as cicatrizes de quando foi hospitalizado
E agora depois de o crime ter abandonado
Na rua sozinho a ir para casa descansado
Na escuridão um antigo inimigo
Leva um tiro
E assim acaba morto à porta de casa
Com um tiro no peito
E em casa a mulher e o filho a esperá-lo

Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Caso Notável


Gostava de ser um enigma ou um caso notável de matemática 

Imagino se fosse um caso notável
Ser sempre uma conta no mesmo livro
Que por mais que se resolva terá sempre o mesmo resultado
(Senão for queimado
Por algum ditador que se zangue com os casos notáveis
E ser um caso notável seja proibido)

Deixa-me morrer como um caso notável, numa fórmula, sossegado
Numa aula de matemática, num quadro


Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 9 de julho de 2013

A Lua


É de dia

Já se vê a lua

Está perto de nós

E nós seguimos malucos

A pensar o mesmo que a lua

Estou a ficar louco no meio da rua

Por causa da lua

Estou farto de esta merda!

Que se foda

Eu, tu e a lua

Não tenho paciência para gente maluca!



Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Quero saber tudo


Quero escrever tudo
Mas como escrever tudo se não sei tudo?
Pouco sei sobre o meu ser
Dá-me outro ser
Só preciso dele emprestado
Para poder ver de outra forma
E tentar saber


Que ser é aprender
Só assim posso escrever
Que tudo não é nada
E nada já eu escrevo
Só me falta saber tudo

Ensina-me tudo
Que eu ensino-te nada
E assim ficamos os dois a saber nada/tudo
Depois de saber nada/tudo
Deixo nada/tudo escrito

Bernardo dos Santos Morgado

sexta-feira, 5 de julho de 2013

E Assim Desafio Tudo


Sou aquilo que imagino
Cada vez sou mais o que quero
Escrevo como se escrevesse para um génio
Luto com o maior monstro
Subo    Subo    Subo   
Penso  Escrevo   Continuo
Subo    Subo    Subo  
Pedra a Pedra construo
O meu castelo no centro do deserto
Pedra a Pedra é o meu Castelo!
É de todos o maior Castelo
E por mais que tenha abdicado
Construí-o perfeito, acabado
Quero aquilo que é meu por direito
Mas acima de tudo esforcei-me para merecê-lo
E agora no meu bolso trago o meu sonho realizado

E quando me dizem «Ele não consegue»
Eu rio, mesmo não conseguindo
Estou satisfeito
Sou eu comigo mesmo a ser eu mesmo
Na poesia o sucesso não é fama nem dinheiro
É a liberdade por inteiro
Sou todo o universo concentrado
Na cabeça de uma criança com apenas um ano
«Dou-te menos de um ano!»
Dizes-me tu convencido mas errado
Dou a mim mesmo uma hora para num poema desafiar tudo

Bernardo dos Santos Morgado 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O Velho


Agora sento-me velho e cansado
Olho para o sol, acendo um cigarro
Relembro toda a minha vida,
Agora que sou velho
Tantas histórias que trago
Penso no que poderia ter feito
No que poderia ter criado
Ajeito o fato, estou lucido
Agora vejo tudo límpido
Mas só agora, porquê só agora que sou velho?
Podia ter visto assim tão claro quando era novo.
Não interessa, está tudo perfeito!
Todo o mal que fiz, não me arrependo
Tinha que ser feito
Todo o bem que fiz, ainda bem, está feito
Deixei tudo escrito num livro
Agora estou lucido, perfeito
Olho o sol, à espera que o vento apague o cigarro
Apaga-se, sorrio e morro
Feliz por ter nascido
Feliz por ter feito
Feliz por estar morto

Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Matemáticos da Poesia


Errados os homens que olham a poesia
como uma conta de matemática
Na matemática a mesma conta
tem sempre o mesmo resultado
na poesia um poema não tem resultado
e nem sempre pode ser interpretado
interpretar um poema como uma conta matemática
é o mesmo que olhar para as nuvens e dizer que tem uma forma
específica, devido a um resultado que foi calculado por uma calculadora
Os poemas têm as formas dos poetas
E os poetas são formas de si mesmo
Comparar poetas é o mesmo
que dizer: a água é mais importante que o sol
Ambos são importantes
Ambos são diferentes
Matemáticos da poesia
Igual a ignorantes

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 2 de julho de 2013

Poesia de Quatro Palavras


Se quatro palavras soltas são poesia
Vou escrever poesia de quatro palavras:



Janela                        Quarto
Tijolo                          Porta
(Poesia da Casa)



Lixo
         Estrada
                       Candeeiro
Alcatrão
(Poesia da Rua)


                       Ignorância
Ganância                              Mentira
                       Arrogância
(Poesia Humana)




Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Viajar Na Poesia


Fecha os olhos
Dá atenção às minhas palavras
Ouve a minha respiração
a imitar as ondas
Dá-me a tua mão
e vem para o meu mundo
Olha o céu azul e as nuvens
Vamos viver com elas
Adormecemos e acordamos nelas
Ouve as ondas por baixo de nós
Olhas para outra nuvem e dizes: Vou ter com ela,
Nuvem que trazes contigo assim tão bela?
E a nuvem diz: Trago doce e canela,
morangos e framboesa
Olhas as minhas cores
São flores
Tu pensas: Que cores… Que cores…
Quem me dera viver com ela
até ao resto da minha vida
Eu digo: No meu mundo tudo existe com certeza
É só agarrar a caneta… poesia
Se não abrires os olhos
Estarás sempre dentro dela
Liberdade poética
Sonhos e a caneta

A liberdade dá razão à vida
Agora é vivê-la

Bernardo dos Santos Morgado

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Conversa Divina


Dois homens entram numa sala
Um claro de cabelos louros
Um escuro de cabelos escuros
Reconheceram-se e sentaram-se à mesa

O claro: Chamo-me deus
              E tu como te chamas?
              Por onde andas?
O escuro: O meu nome é diabo
                Ando por um lugar que chamam inferno
                Que eu chamo casa
                Os meus amigos convido
                Para lá irem viver comigo
                Um lugar lá em baixo
                De fogo, vermelho
                E tu onde tens morado?
O claro:  Moro num lugar a que chamam paraíso
              Que eu chamo casa
              Que os meus amigos convido
               Para lá irem viver comigo
               Um lugar lá em cima
               Fresco de flores, colorido
O escuro: Ah! Nós somos…
                Aqueles que todos falam
                E nunca viram
                Que todos acreditam
O claro: Aqueles que de tudo justificam
             Quando há guerra culpam
O escuro: Ainda não sei
                Que fiz eu para ninguém
                 Gostar de mim
O claro: A mim todos gostam, todos viram
             A mim todos pedem, mas nada fazem
             Riso mostram, falsidade escondem
O escuro: De mim todos fogem
                A mim culpam
              ¿Eu que sou a razão
                De toda a sua podridão!?
                Que merecem eles!?
                Senão aquilo que têm!?
                Miséria para nela brincarem
                Vícios para mais rápido morrerem
                Armas para se matarem
O claro: Perfeito, dou-lhes música
              Literatura e a pintura
              Génios de tempos em tempos
              Para alguma coisa aprenderem
O escuro: Dá-lhes isso!
                Para nos escreverem
                Para nos pintarem
                Para nos cantarem
              (Riso)
O claro: Mal nos escrevem
             Mal nos pintam
             Mal nos cantam
O escuro: De louco me tomam
                E de ignorância abundam
O claro: Realidade turva, mal feita
             Transe da espécie humana
             Qualquer dia desisto
             Com a mesma certeza
             Que me escrevem
O escuro: Realidade estúpida, bem feita
               Transe da espécie humana
               Qualquer dia insisto
               Com a mesma certeza
               Que me pintam
               Que os humanos se afundem
               Com a mesma certeza que nos cantam!


Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Hoje o dia foi escuro


Hoje o dia estava a esmorecer
Num escurecer de morrer

Hoje o dia estava a tremer
Num grito de estremecer

Hoje o dia estava a chorar
Num pedir a implorar

Hoje o dia estava a custar
Num fugir a cair

Hoje o dia foi devagar
A escrever e a pensar


Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Armadilha


Estou preso
Preso a mim
Preso a este corpo
E a este pensamento
Não consigo ser o que quero
A natureza não me deixa ser o que quero
Estou nesta armadilha sem fim
Nesta armadilha
Que está dentro de mim
Quero sair de mim
Para voar, voar sem rumo
Como areia que voa no vento
Quero ver-me de fora, como pareço
Como sou por completo
E dissipar-me no Universo
É só isto que peço

 Peço pouco


Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 25 de junho de 2013

Nesse Dia que Chovia


Para D. S. Araújo
Se eu não soubesse.

Se eu não soubesse que existias
O amor não conhecia
O amor não existia
Nada existia
A noite era dia
O dia era nada
Nesse nada apenas chovia
A vida era nada
Eu era nada
E o pensar doía
Só tu me deste o que queria
O que precisava
Sem ti o sol não brilhava
Nada era o que devia
Mas do nada me tiraste
Para uma nova vida
Uma nova sorte
Uma nova escrita
Onde o nada já não existe
Nesse dia que chovia


Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Pensamento



Lê estas palavras
Entendes alguma coisa?
Sentes algo?
Eu sinto porque fui eu que deixei escrito
Sinto o que penso e o que conheço
Sinto o que desconheço
Sinto que procuro. Conhecer mais
Pega na caneta e escreve
Escreve como eu
Pega num livro e lê
Lê como eu
Diz-me se não és feliz por um momento
Diz-me se não existe em ti um pensamento
Não vês as palavras de outra forma?
Pensa!
Pensa no que escreveste
Pensa no que leste
(Se realmente existe em ti o pensamento)
Pensaste?


Bernardo dos Santos Morgado

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Meu amor (I)


Ainda me lembro
Quando nos conhecemos
Tu de preto
Eu de preto
Andávamos perdidos
Até que nos encontrámos
Lembro-me:
Quando te ofereci o fio de prata
Quando me ofereceste o isqueiro de prata
Prata que ainda brilha como nós
Meu Amor serás sempre meu
E eu sempre teu
Até nos irmos


Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Vida (III)



A vida é azul no céu
A vida é verde nos campos
A vida é vermelha no sangue
A vida é transparente na água
A vida é preta na noite
A vida é castanha na terra
A vida é branca nas estrelas
A vida é amarela nas flores
A vida não tem cor na morte



Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Sempre a Mesma Coisa


Acordo na mesma cama
Visto a roupa que sempre tive
Vou comer a mesma comida
Saio de casa sempre para a mesma rua
Apanho o mesmo comboio
Que passa à mesma hora todo o ano
Chego sempre atrasado à mesma escola
Para ter aulas na mesma sala
Com os mesmos professores
Que irão ensinar a mesma matéria de sempre
Que sempre foi ensinada
Volto apanhar o mesmo comboio
Para voltar à mesma rua
Entro na minha casa que não muda
E deito-me em cima da mesma cama
Tenho o mesmo sonho e espero
Que o dia seguinte seja a mesma coisa


Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 18 de junho de 2013

A Rainha


Rainha
que alguém enfeita
Passa
Passa
Pela rua
Que é tua
Toda tua
De minha não tem nada
Passa
Minha rainha
Canta
Que cantas sempre bem
Dispara
Se matares, não interessa quem
Pois és rainha
Mas rainha de quem?
Minha?!
De quem?
Sabes de quem?!
Vai!
Vem!
Matem!
Quem?!
Essa rainha
Que não é de ninguém!

Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 17 de junho de 2013

As Palavras


A
S        P
          A
          L
          A
          V
          R
          A
          S
C
A
E
M

E eu apanho-as…
Agora são minhas!
Escrevo Poesias
A
    T
        I
           R
               O   
                    A
                         S
Agora são tuas!
Ofereço-tas!
Trata delas
Como se fossem tuas Filhas!

Bernardo dos Santos Morgado

domingo, 16 de junho de 2013

Não Ser



Triste é viver
Quando não se vive 

o que se quer fazer
Triste é ser
Quando não se é 

o que se quer viver
Triste é morrer
Quando não se morre 

o que se quer escrever
Triste é escrever
Quando não se escreve 

o que se quer morrer

Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Não Me Arrependo

Não me arrependo
De nada, se aquilo
que aconteceu, aconteceu por um motivo
Foi e fez de mim o que sou hoje
Não me arrependo de nada
Hoje sou melhor que alguma vez fui
Amanhã serei melhor do que sou hoje
Não me arrependo.
Todos os passos que dei levaram-me a este caminho
Olho os que caminham a meu lado
Conquistaremos um lugar na história
A tabuleta ao nosso lado:
                        Distância: Infinito
                         Lugar: História
Nessa tabuleta por baixo
está escrito: “I know not what tomorrow will bring”
(a ultima frase de Fernando Pessoa)
e por baixo escrevo: Tomorrow will bring us everything
                                  We don’t need to fear nothing
                                  Fire is always burning
                                  Lilacs still growing
                                  Words still writing
                                  We still living
E sigo o meu caminho
Nada arrependido

Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Mar


Mar, o sol em ti refletido
tu reflectido nos meus olhos
na praia te vejo 
chegar em ondas
transportam tantas histórias
e eu que as terei de escrever todas
nós os dois
debaixo do mesmo sol, 
a partilhar as mesmas palavras
dá-me inspiração, 
e eu dou-te os meus poemas
dá-me o teu coração, 
e eu dou-te as minhas pernas
para te levar a todo o lado na minha mão
neste poema

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 11 de junho de 2013

A Mentira



Veste-se
Mascara-se
Anda pela rua
Altiva
Confiante
Inventada
Por alguma
Mente
Ri
Mente
Chora 
Mente
Sente 
Mente
Passa
Mente
Fala
Mente
Canta
Mente
Olha
Mente
Não passa de uma mentira
Cansada de ser mentira, despe-se

Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Vida (IV)


Só existe doce se existir amargo
Só há amor se houver ódio
Só há segurança se houver perigo
Só existe música se existir silêncio
Só existe felicidade se existir tristeza
Só se alcança a vitória se houver derrota
Só se vê a diferença se existir indiferença
Só se sente carinho se se sentir a violência
Só existe prazer se existir dor
Só existe sorte se existir azar
Só existe Vida se existir Morte


Bernardo dos Santos Morgado 

sábado, 8 de junho de 2013

Formiga Trabalhadora


Não escolhi nascer formiga
Mas formiga nasci
Nasci para trabalhar
Ouvir e calar.
Sem pensar nem ponderar.
Sem sonhar nem alcançar
O trabalho chega
O trabalho vai
E só isto eu sei
O tempo passa
E em cima de mim tudo cai
Rainha: Vai trabalhar!
E ela vai.
Sem pensar.
Sem questionar.
Para a rainha a alimentar
Para a rainha satisfazer
Até o dia chegar
Irá morrer a trabalhar.

Bernardo dos Santos Morgado

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Político

Este poema te dedico:
Se a crise fosse tua... também a inventavas?
Se te tirassem a casa e o carro a gravata e o cargo
Se te fizessem passar fome...
Gritarias? Grita à vontade.
Ninguém te ouve como tu não ouves ninguém
Só os ignorantes que votam em ti!
Como consegues ver tanta miséria
Sabendo que foi invenção tua,
E continuar com um sorriso na cara!? (Hipócrita!
Se o teu mal fosse para contigo, para contigo mesmo!
Com dinheiro que roubas compra um espelho
Olha bem para ti e vê-te a desfazer!
Como uma parede velha pouco a pouco
Até sobrar no chão apenas o fato
E as mentiras todas se tenham evaporado
Mas logo aparece outro político
Com probabilidade até de ser com o mesmo fato
E a miséria é nova mas a nova miséria é mesma que a antiga
Grécia porque inventaste as políticas? (agora nelas te afogas
Como o resto de nós que damos aos remos
Mas sabemos e esperamos entrar em águas profundas
Se eu fosse um rei-escritor
Político para ti a minha poesia seria uma guilhotina.

Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Vem


Vem, vou mostrar-te o que vejo e o que sinto
Vou mostrar-te como escrevo e como vivo
Vou levar-te de volta à infância
Para veres como eras em criança
Vou dar-te de novo a esperança
Vou mostrar-te como fiquei sozinho
Vou fazer-te lutar por um político
Para veres como é ridículo
Vou fazer ver-te a violência
Como quando eu a vi a primeira vez
Vais sentir as minhas cicatrizes
Vou fazer-te sentir o que uma mãe sente
Quando perde um filho
Vou fazer-te sentir o que um filho sente
Quando perde uma mãe
Vou pôr-te dentro daquele
Cão que abandonaste
Vou pôr-te na pele daquele
Velho que caiu e que tu riste
Vou fazer-te sentir o que sentiu aquele
Cego quando te pediu ajuda e o ignoraste
Vou pegar em ti agora e dou-te
Os meus olhos e a minha consciência
Agora observa-te. [Vê lá se respiras...
Olha para o Sol!
Porque achas que te cega?
Não és digno de o olhar!
Queres fugir?
Ainda agora te estavas a rir
E a pensar só em ti [Ri-te agora...
Não?...
Porque não?...
Já sentiste a minha dor e a minha Vergonha?
Já o sentes agora?
Sai dessa casa e tira essa roupa
Deixa esse carro e vem viver comigo
Agora olha!
Olha para a tua arrogância e indiferença
Ajuda o velho
Não abandones o cão
Não ignores o cego
Ajuda-te e encontra-te a ti próprio
Agora olha o sol
Agora sim consegues vê-lo
Consegues ver o que eu vejo

A liberdade e a felicidade de tu seres Tu
A liberdade e a felicidade de eu ser Eu


Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Vida (II)


O caminho errado é sempre o mais fácil
O caminho certo é sempre o mais difícil
Por isso:
Quando era fácil fugir
Eu fiquei
Quando era fácil aceitar
Eu recusei
Quando era fácil odiar
Eu amei
Quando era fácil destruir
Eu criei
Quando era fácil perder
Eu ganhei
Quando era fácil desistir
Eu lutei
Quando era fácil tirar
Eu dei
Quando era fácil ignorar
Eu pensei
Quando era fácil acabar
Eu comecei
Quando era fácil calar
Eu falei
Quando era fácil culpar
Eu assumi
Quando era fácil esconder
Eu mostrei
Quando era fácil morrer
Eu vivi!

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 4 de junho de 2013

Poeta


Poeta

Olhaste por mim
Deste-me o mundo
 Esqueceste-te do ponto
Infinito
Esqueceste-te do limite
Imortal
Nada está acima de mim
Morte
Nada
Sorte
Força? Sem fim
Palavras? Tudo
A minha respiração
Vento
A minha força
Mar
A minha vontade
Terra
O meu pensamento
Fogo
O meu objectivo
Tudo
A minha vida
Universo
Nada é inalcançável!
Tenho Tudo
Poesia


Bernardo dos Santos Morgado

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Natureza e o Homem


Natureza perfeita, imperfeita
Que nos usas e censuras
Natureza, que inventaste a felicidade
Porque inventaste a tristeza?
Natureza que nos deste inteligência
Porque nos deste ignorância?
Natureza porque nos dás a força?
Para nos testares na sobrevivência?
Natureza que nos trouxeste a música
Porque nos tiras a audição?
Natureza que nos trouxeste a beleza
Porque nos tiras a visão?
Porque nos castigas?
E nos fazes ser parasitas?

Tu homem!
Que és estúpido e ignorante
E não percebes a natureza
Porque inventaste o dinheiro?
Para alguns terem riqueza?
Para outros terem pobreza?
Porque inventaste a política?
Para alguns terem Hitler?
Para outros terem Estaline?
O que é ao certo a política?
Porque te escondes na religião?
Porque te escondes em matilhas e em armas?
Para nada te servem as palavras!
Escondes-te no racismo!
Escondes-te no vício!
Escondes-te na violência!
Enquanto fores ignorante e te iludires de conhecimento
Não vês os que se sacrificam por ti e pelo conhecimento
Tu!
Aprende e mantém o equilíbrio entre a ignorância e cultura!
Ouve Mozart!
Ouve Mahler!
Ouve Bach!
Lê Régio!
Lê Negreiros!
Lê Pessoa!
Vê Goya!
Vê Van Gogh!
Vê Picasso!
Aprende com isto tudo
Para que sirva de algum motivo
Eles terem vindo ao mundo



Bernardo dos Santos Morgado

domingo, 2 de junho de 2013

Eu


Sou o que Sou
Vejo o que Vejo
Faço o que Faço
Amo o que Amo
Acredito no que Acredito
Sinto o que Sinto
Odeio o que Odeio
Acho o que Acho
Escrevo o que Escrevo
E mesmo assim,
Desconheço quase tudo

Mas a cima de tudo Eu:
Vejo o que Sou
Faço o que Penso
Acredito no que Amo
Amo o que Sinto
Sinto o que Escrevo
Escrevo o que Acho
Odeio o que Desconheço


Bernardo dos Santos Morgado                

sábado, 1 de junho de 2013

O Sorriso da Criança


Quando uma criança sorri
O mundo muda
A criança deseja
A criança sonha
O desejo do mundo é a criança
E o meu sonho é o sorriso da criança
O sorriso a esperança
A criança
A inocência
A lembrança de ser criança
Uma harmonia
A criança canta
E o nosso orgulho dança
Eu no sorriso da criança
Olho para cima com confiança
E digo: Um dia voltarei a ser criança!

Bernardo dos Santos Morgado

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Ser



Ser é existir
Existir para pensar
Pensar é desobedecer
Desobedecer para criar
Criar para evoluir
Evoluir para ficar
Não existe guerra Capaz
De destruir
O progresso feito na paz
Nem que destrua um sorriso de rapaz
Que por ser rapaz é a natureza do ser
Do meu ser
Chego sempre atrasado
Mas mesmo atrasado
Sou o melhor no que faço
Perfeito no que me empenho
Divino no que me esforço
E por isso sou mais que um ser humano
Sou eu livre com o que amo
Esse é o ser perfeito
Perfeito é esse o ser!
Que comigo teve que nascer!

Bernardo dos Santos Morgado

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Será Sempre

                                                    (Dedicado a Manuel A. Pina)

Tu
serás sempre
Tu
por mais que tentes
sair do teu
Eu
serei sempre
Eu
Por mais
que eu tente
Ser
outro eu
cada vez mais
Serei sempre
Eu
Como
um Pássaro
por mais
que voe
Será sempre
um Pássaro
Por mais
que procure
Será sempre
Como eu
Por mais que       voe
voe        escreva                     
   escreva            voe                  
Cada vez mais
Para fora
Do meu
Ser
Mas o ser
Será sempre
Meu
Agora
Que morreu
Um génio
A ele Escrevo        
Mas quando
Morreu
Outro
Nasceu
Dentro
Do meu.
Pássaro.
Como vai
o teu?
O meu
Vai bem
É meu



Bernardo dos Santos Morgado

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Lareira



Sentado
Acendo um cigarro
Em frente da lareira
Rebola um pedaço de madeira
Levanto-me
Agarro-o mesmo em chama
Queimo-me
Rio queimado sozinho
Olho pela janela
Lá está o sol
Raios de sol
E diz o sol ao meu ouvido
Como se estivesse a meu lado:
Olha-me!
E eu olho o sol e cego-me
Mesmo que seja apenas psicológico
Queimado sozinho cego
Caminho na direção da lareira
De onde ouço
Vinda do fogo, uma música perfeita
 (Impulsos eletroquímicos atravessam os meus neurónios)
Entro na lareira
E abraço o fogo
Como se abraça um filho
E assim morro
Queimado sozinho cego encolhido
Uma criança brinca sob os raios de sol
Eu morto em cinzas sob os raios de sol
Deixei a minha vida, em poema, escrita num papel

Bernardo dos Santos Morgado

terça-feira, 28 de maio de 2013

No Meu Bolso



Perdido no deserto que trago no bolso
Agarro e puxo-o para fora como um forro
Para sacudir o pó e os papeis, agarro
E puxo-os para fora do meu bolso
Caem mortos do meu bolso
Todos os poemas que tinha escrito
“Phantasie ist unser guter genius oder unser
dämon“     [1]
E no chão o som
Os gritos dos génios
Que caíram agarrados aos meus poemas
Wasser und feuer sind deine augen                 [2]
Poets zupfen ihre Herzen                                 [3]
Com o coração por entre os dedos
Vermelhos escorrem os segredos
Vestidos de mistérios
Sujos por entre os dedos
E assim do meu bolso
Caíram e morreram todos os génios

Bernardo dos Santos Morgado

Notas:
[1] - Frase de Immanuele Kant (A imaginação é o nosso génio do bem ou o nosso demónio)
[2] - Água e fogo são os seus olhos
[3] - Os poetas arrancam os seus corações

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Desordem e a Perfeição


No universo tudo tende à desordem
Eu correspondo
Tendo à desordem
Mas na minha desordem sou organizado
Na minha desordem sou eu
Adapto-me como um líquido
Ganho a forma do recipiente
Se fosse um sólido acabava partido
Pedaço a pedaço, espalhado
E o ser humano é um sólido
Acaba sempre partido
Nem que seja apenas na cabeça
Mas acaba
Na minha desordem
Tento alcançar a perfeição
Como se a perfeição estivesse no topo da prateleira
Ponho-me em bico de pés, estico-me e alcanço-a
Toco-lhe com a ponta do dedo
A natureza, a física, puxam-me para baixo
Já com o braço dorido, por fim agarro-a
Agarro nela com força e guardo-a
E assim como tantos outros desafiei a física
Para alcançar a perfeição
Desafiando a 2ª lei da termodinâmica
E a lei da gravidade, para poder ser minha
Agora com ela bem guardada junto do meu peito, é minha!
Sento-me com ela, pouso-a no meu colo
E escrevo  escrevo  escrevo
Porque agora a perfeição é minha
E agora que me falta fazer neste mundo?
Se já tenho a perfeição no meu colo?
Agora só me falta escrever tudo
Para deixar o meu legado
O legado perfeito, que é perfeito pelo meu esforço
Um dos mais importantes do universo
Porque para o ter na desordem esforcei-me
Desafiei a natureza e a física e agora dou-to
O livro em que escrevi tudo
Mas custou-me

Custou-me a vida.

Bernardo dos Santos Morgado